‘Exportar é bom, pois ainda ganho no câmbio’
Impulsionado pela exportação, o preço do limão taiti disparou nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo. Na região de Catanduva, maior produtora com 4 milhões de limoeiros em produção, a caixa de 27 quilos era vendida entre R$ 60 e R$ 65 ontem. No município de Itajobi, maior produtor individual da fruta, a caixa selecionada para exportação saía a R$ 70. No fim de fevereiro, a caixa do mesmo limão era vendida a R$ 10, mas alguns produtores chegaram a comercializá-la a R$ 7 para não deixar a fruta cair e apodrecer.
Os produtores acreditam que um dos motivos para o aumento na cotação pode ser a pandemia do novo coronavírus. O alto teor de vitamina C presente na fruta ajuda no fortalecimento do sistema imunológico para enfrentar os efeitos do vírus em caso de infecção. Os médicos afirmam que a vitamina C protege as células do organismo contra o estresse oxidativo causado por infecções. Os produtores registraram aumento na demanda fora do verão, época de maior consumo.
Para o produtor e engenheiro agrônomo Maurício Agostinho, de Itajobi, a busca por alimentos mais saudáveis se tornou mais intensa durante a pandemia, sobretudo em países da Europa que tiveram alta disseminação do vírus. O mercado europeu é o principal destino da fruta brasileira. “Já tínhamos a vantagem do setor não ter sido afetado pela pandemia, como aconteceu com produtores de outras frutas e legumes, agora tem esse preço bom. Estamos com uma demanda incomum para essa época do ano e, realmente, o limão só traz benefícios para quem produz e para quem consome.”
Ele acredita que a oferta menor nesse período, que é de entressafra, também colabora para a alta. “O pico da produção acontece de janeiro a março, depois há queda tanto na produção quanto no consumo, que só volta a crescer a partir de agosto e setembro, com a chegada do verão. Este ano, o aumento na demanda aconteceu mais cedo e se refletiu nos preços. Nesta época, seria normal vendermos a caixa do limão entre R$ 20 e R$ 30. Estamos vendendo a mais que o dobro.”
Além de produtor, com 5,5 mil plantas em 16 hectares, Agostinho também é proprietário de uma empresa de insumos agrícolas e dá assistência a outros produtores de limão. Ele pondera que o preço elevado não significa que o produtor está “nadando” em dinheiro. “É preciso considerar o preço médio ao longo do ano. O valor de hoje está ajudando a compensar o preço baixo do início do ano, quando o limão foi vendido abaixo do custo. A gente não pode negar que exportar está sendo um bom negócio, pois há também o ganho no câmbio, já que exportamos em dólar ou euro.”
O produtor Osmar Fernandes de Jesus, também de Itajobi, está nas duas pontas da cadeia do limão. Ele é grande produtor, com 50 mil limoeiros cultivados, e dono de uma exportadora de limões. Além da produção própria, ele processa e exporta o limão de outros produtores da região. “Não é todo limão que tem padrão para exportar. A fruta precisa ter bom tamanho e estar bem verde, com a casca consistente, para aguentar a viagem”, diz. As frutas passam por um processo de seleção no “packing house” da empresa. O limão que não vai para o exterior é vendido para empresas processadoras de suco ou para consumo in natura.
Fonte: Estadão