Ruído político faz risco Brasil subir bem mais que emergentes a afasta estrangeiros
O Brasil passou nas últimas semanas a ser um país mais arriscado para o estrangeiro investir quando comparado a outros emergentes. Isso porque, se a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus é uma realidade para todos, os ruídos políticos, além de serem muito mais intensos aqui, ajudaram a elevar as preocupações sobre a recuperação da atividade e em relação às contas fiscais brasileiras. Resultado: o risco-país subiu bem mais na economia doméstica que em outras regiões. Com a tendência de os juros reais se tornarem negativos aqui nos próximos meses, a avaliação de estrategistas e economistas ouvidos pelo Broadcast é que o Brasil vai ficar ainda mais distante do radar dos grandes investidores internacionais.
Uma das medidas da piora da percepção sobre o perfil de risco do Brasil é o comportamento recente do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do País, um derivativo que protege contra calotes na dívida soberana. Só este ano, o CDS do Brasil já disparou 230%. Como comparação, na América Latina, o do México avançou 175% e o do Chile teve aumento de 140% no mesmo período. Entre emergentes de outras regiões, o da África do Sul subiu 137%, o da Turquia ganhou 122% e o da Coreia do Sul, 55%.
Antes da crise do coronavírus e da piora do ambiente político, investidores viam o Brasil com chance de voltar à classificação grau de investimento, como mostravam as taxas do CDS no começo de janeiro, que operavam na casa dos 95 pontos, no menor nível em 10 anos. Em abril, as taxas chegaram a superar 400 pontos, o mesmo nível que o Brasil tinha no começo de 2016, pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff. Hoje, são negociadas no nível de 330 pontos, segundo cotações da IHS Markit.
“Estamos cada vez mais pessimistas sobre as perspectivas com o Brasil”, afirma o economista sênior em Londres para América Latina da consultoria Pantheon Macroeconimics, Andres Abadia. Para ele, a forma como o presidente Jair Bolsonaro está lidando com a pandemia, minimizando seus riscos, e o aumento dos conflitos políticos gerados pelo presidente, só vão tornar o cenário de recuperação ainda mais difícil após o pico da pandemia do coronavírus passar. “As condições econômicas no Brasil estão se deteriorando rapidamente”, afirma ele.
“Este é o pior momento para uma crise política no Brasil”, afirma a analista de moedas do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. O país deve enfrentar uma forte recessão por causa do choque causado pela pandemia do coronavírus e o aumento do ruído político só ajuda a elevar as dúvidas sobre o quão rápido o Brasil vai conseguir sair deste quadro. “As taxas de juros reais derreteram para quase zero”, acrescenta.
Com esse quadro, a analista do Commerzbank prevê que o dólar pode já no mês que vem, em que ela espera novo corte de juros pelo BC, bater em R$ 6,05, nível inédito no país. O ambiente de juro baixo, economia enfraquecida e risco político devem manter o investidor estrangeiro afastado e a moeda americana acima de R$ 5,70 até o final do ano, prevê o banco alemão. “O real permanece para nós como uma das moedas de país emergente com o maior risco de piora.”
Para um ex-diretor do BC, não há porque o estrangeiro vir para o Brasil neste momento, pois o País está caminhando para um juro real negativo e, quando, se faz o ajuste pelo prêmio de risco, a comparação com outros países fica bem pior. Ele lembra que, somente este ano, já saíram do Brasil pelo canal financeiro mais de US$ 32 bilhões, dos quais quase US$ 7 bilhões somente no mês passado.
O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, também destaca que o Brasil está se movendo rapidamente para um “território não explorado” de taxas de juros reais em direção a zero. Para ele, a comunicação do Banco Central, incluindo a ata da última reunião de política monetária, aponta para mais um corte de juros no país no mês que vem, de até 0,75 ponto porcentual.
Ramos observa que a própria diretoria do BC alerta para a tendência de prêmios de risco mais altos no país, por conta da fragilidade fiscal da economia brasileira e a incerteza sobre o prosseguimento do controle de gastos.
A piora das contas públicas e a economia enfraquecida devem seguir limitando o fluxo de capitais para o Brasil ao longo deste ano, avalia o Itaú Unibanco ao reduzir esta semana a previsão de desempenho do PIB brasileiro este ano para queda de 4,5%.