Baixa qualidade e alto preço do asfalto impactam no setor de transportes
O asfalto utilizado em 99% das rodovias brasileiras pavimentadas tem problemas na especificação, no fornecimento e na fiscalização da qualidade, além disso o preço do produto não acompanha as quedas da variação do barril de petróleo no mercado internacional. As constatações foram feitas pela Confederação Nacional do Transporte, em pesquisa divulgada.
Conforme o diretor executivo da CNT, Bruno Batista, o estudo da entidade alinhou o preço e a qualidade do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) utilizado no Brasil aos do mercado internacional. No país, o produto teve aumento de 108% entre o fim de 2017 e o início de 2019. “Até setembro de 2018 houve alta no preço do barril de petróleo, mas, de lá para cá, houve queda de 22%. Enquanto isso, o CAP subiu 27% nesse período”, alertou Batista.
Em termos de qualidade, o diretor da CNT explicou que o asfalto brasileiro é produzido em apenas nove refinarias, todas da Petrobras. “O problema é que as normas da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) são ensaios empíricos, que não são mais usados em outros países”, explicou.
Segundo Batista, o órgão regulador não controla a qualidade do asfalto que é aplicado nas rodovias. “O produto tem que ser levado quente, com espessura controlada e agregados acrescidos na mistura”, detalhou. Porém, a ANP não realiza coleta das amostras, não tem laboratório e não controla a qualidade do asfalto, de acordo com o diretor da CNT. “Há uma incerteza muito grande entre o que é produzido nas usinas e o que é aplicado nas rodovias. O tempo reduzido de durabilidade das obras nos leva a crer que a qualidade é baixa”, ressaltou.
Outro ponto questionado pela CNT é a falta de concorrência. “Como a Petrobras detém o monopólio, a precificação do CAP não acompanha o mercado internacional”, ressaltou. “Os preços praticados são altos e estão subindo. Os contratantes, que em geral são os governos federal e estaduais, têm pouca disponibilidade de recursos. A tendência é investir menos. E as condições das rodovias pioram”, explicou Bruno Batista.
O asfalto inadequado compromete a qualidade do pavimento, com impacto direto no setor de transporte. “Rodovias precárias elevam os custos com manutenção e aumentam o tempo de viagem e o consumo de combustível. Isso acaba repassado no frete e, consequentemente, nos produtos”, alertou.
Para resolver essas questões, a CNT defende melhorias capazes de promover um mercado de asfalto mais competitivo, com uma oferta de produtos mais adequados. Entre as propostas, a entidade sugeriu que seja dada maior transparência à política de preços adotada pela Petrobras, atualmente responsável por 100% da produção de asfalto no país.
Fonte: Correio Braziliense