Parceira de SC, Câmara de Comércio Árabe acompanha visita de Bolsonaro a Israel com cautela
A visita oficial do presidente Jair Bolsonaro a Israel é acompanhada com especial atenção pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Os árabes são grandes parceiros do Brasil no comércio exterior, e Santa Catarina ocupa papel de destaque, especialmente na exportação de proteína animal. Por isso um abalo nas relações traria consequências graves à economia.
Na segunda-feira (1), o anúncio da criação de um escritório brasileiro de negócios em Jerusalém, e a visita de Bolsonaro ao Muro das Lamentações – área requisitada pela Palestina – acompanhado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, levou a Autoridade Palestina a convocar o embaixador Ibrahim Alzeben, num gesto simbólico.
Alzeben é decano do conselho de embaixadores árabes, que reúne 41 países, no Brasil. A convocação pela Autoridade Palestina é vista, no meio diplomático, como sinal de descontentamento. Os embaixadores pediram oficialmente uma reunião com o presidente Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo, assim que eles voltarem da agenda em Israel.
Atenção total
Nesta segunda-feira, a Câmara de Comércio mantinha atenção total tanto nas declarações de Bolsonaro, quanto em eventuais manifestações dos países-membros. O Brasil é um importante parceiro comercial dos árabes, e Santa Catarina está entre os estados que mais exportam para o bloco. Somente a exportação de frango rendeu ao Estado, entre janeiro e novembro do ano passado, o equivalente a US$ 495 milhões.
Cerca de 28% da proteína animal enviada pelo Brasil aos países árabes passam pelo Complexo Portuário do Itajaí-Açu. Não por acaso, Itajaí tem a única filial brasileira da Câmara de Comércio, que tem sede em São Paulo.
Em entrevista exclusiva à NSC, o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour, comentou o momento delicado. Disse não acreditar na possibilidade de embargo, destacou a parceria com Santa Catarina, mas alertou: se o Brasil terá um escritório de negócios em Israel, deveria ter o mesmo tratamento para com os países árabes.
Entrevista: Tamer Mansour
“Que abra escritórios nos países árabes também para promover setores específicos”
Como a Câmara avalia as consequências que a viagem de Bolsonaro podem ter aos negócios que envolvem o Brasil e os países árabes?
Estamos sendo muito cautelosos em relação ao assunto ainda. O que veio de informações para nós até o momento foi a abertura de um escritório comercial, para incrementar relações comerciais no setor de ciências, inovação, tecnologia e transmissão de investimentos. Como é uma relação comercial do Brasil com o mundo, não devemos nos pronunciar em relação a isso. Se forem apenas relações comerciais, queremos as mesmas igualdades, as mesmas atitudes em outros países, inclusive (em relação aos) países árabes. Que (o Brasil) abra escritórios nos países árabes também para promover setores específicos.
A decisão dos embaixadores de pedir de imediato uma reunião com o presidente é significativa?
É importante ter uma mensagem política, onde a Câmara não se envolve, mas é importante que os embaixadores passem essa mensagem para o presidente da república. Essa reunião estava sendo solicitada há muito tempo, não foi pedida agora. Foi solicitada novamente, digamos. Mas já havia sido pedida há muito tempo depois que o presidente assumiu.
Tem se falado sobre a possibilidade de embargo. Ela é real?
É muito prematuro, e a curto prazo eu não acredito nisso. Tivemos alguns problemas pontuais no setor de proteína animal, frango, com um país específico, que foi a Arábia Saudita, e naquele momento explicamos que foi (um posicionamento) 100% comercial e técnico. O Brasil deveria atender algumas especificações que não foram atendidas, por isso a Arábia Saudita tomou essa atitude.
Qual o papel que Santa Catarina tem na corrente de comércio exterior que envolve os países árabes?
Abrimos um escritório em Santa Catarina justamente para atender a região Sul como um hub logístico, especialmente o Porto de Itajaí. Quase 85% das proteínas de carne branca, aves, dos portos de SC, sai de Itajaí. Abrimos nosso escritório para facilitar o trâmite comercial e burocrático dos documentos que chegam com as cargas de exportação, mas claro que também estamos abrindo um novo núcleo comercial entre as empresas de SC e os países árabes. Estão no nosso radar vários setores, destaco o setor de revestimento em cerâmica e o setor de madeira. Sabemos que pelos árabes há alta procura, e que existe potencial muito grande no Estado. A Câmara quer ser parceira, o canal oficial para levar essas empresas catarinenses até as empresas árabes. E não posso ignorar, ainda, o setor de turismo.
Diante desse cenário, como a Câmara acompanha a evolução essa questão da política externa do Brasil?
Com muita cautela, com muito cuidado, acompanhando o dia a dia. Temos equipe montada aqui para monitorar quase que hora a hora de tudo o que sai, se há alguma declaração dos países árabes também.
Fonte: NSC Total