Gigantes do petróleo buscam ativos renováveis para aquisição no Brasil, dizem fontes
Grandes petroleiras globais têm olhado com interesse o mercado de energia do Brasil, em busca de novas oportunidades para a aquisição de ativos renováveis no país, visto como um dos mais atrativos do mundo para investimentos em geração solar e eólica, disseram à Reuters duas fontes próximas ao assunto.
O movimento envolve pelo menos a francesa Total e a norueguesa Equinor, que já possuem ativos em energia limpa no Brasil, e a Shell, disseram as duas fontes, com uma das delas apontando que a britânica BP também estaria mirando o setor.
A estratégia das empresas parece estar ainda em etapa inicial, disseram as fontes, destacando, no entanto, que a iniciativa das estrangeiras contrasta com declarações recentes do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
Em apresentação de resultados no mês passado, o CEO da Petrobras disse a jornalistas que as renováveis não são prioridade da companhia neste momento, mas uma perspectiva de longo prazo, dado o foco da estatal em investimentos na exploração de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas.
Já as estrangeiras têm mostrado apetite principalmente por projetos eólicos ou solares, principalmente ativos operacionais ou que estão ainda no papel, mas já com contratos para a venda de energia, disse uma das fontes, que falou sob a condição de anonimato.
“Elas têm olhado, avaliado alguns processos (de fusões e aquisições), mas hoje já não há tantos ativos bons disponíveis no mercado”, afirmou.
“Sim, sim, a gente tem sentido esse movimento, de fato. É um momento ainda de estudo, de definição de rotas, de caminhos. Esse movimento é global”, afirmou a segunda fonte, que também pediu anonimato.
A Total Eren, empresa da Total para renováveis, tem três usinas solares em construção no Brasil que devem começar a operar neste ano, com uma capacidade de 140 megawatts, e admitiu à Reuters que ainda está de olho em mais oportunidades.
“Nossa equipe no Brasil está atualmente trabalhando no desenvolvimento de novos projetos e ainda está procurando novos (ativos)”, afirmou a empresa, que se recusou a comentar negócios específicos.
A Equinor também recusou-se a falar sobre possíveis investimentos em especial, mas destacou o apetite por crescimento em energia limpa.
“Em todo o mundo, a Equinor está comprometida em prover energia de forma mais sustentável e acreditamos que a geração de energia a partir de fontes renováveis será uma parte fundamental disso. O Brasil tem um grande potencial para a geração de energia solar e eólica e estamos avaliando cuidadosamente as oportunidades de negócios no país”, afirmou.
A empresa, que comprou no final de 2017 uma fatia no projeto solar Apodi, no Ceará, que entrou em operação no final de 2018 com uma capacidade 162 megawatts, disse que pretende chegar até 2030 com cerca de 20 por cento de seus investimentos em renováveis.
A BP recusou-se a comentar, enquanto a Shell não respondeu pedidos de comentário.
PETROBRAS FOCA LONGO PRAZO
As investidas de Total e Equinor em energia limpa no Brasil passaram pela assinatura de acordos com a Petrobras.
A Total disse em dezembro que uma joint venture com a Petrobras para energia solar e eólica onshore no Brasil buscará desenvolver uma carteira de até 500 megawatts em capacidade em um horizonte de cinco anos.
Já a Equinor firmou em setembro passado memorando com a estatal brasileira para começar a avaliar oportunidades de negócio em energia eólica offshore, em alto mar.
Mas o novo CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro, afirmou recentemente que a companhia ainda precisa avaliar se faz sentido direcionar recursos a projetos eólicos e solares.
“Nós, antes de investir em energia renovável, temos que responder uma pergunta básica: nós temos as competências para ter sucesso nesse tipo de negócio?”, questionou ele, em coletiva de imprensa em março sobre os resultados da companhia.
“Nossa competência, adquirida ao longo de 65 anos… é exploração e produção de petróleo e gás. Nada indica que nós tenhamos as mesmas vantagens no negócio de energia solar, energia eólica. Então é um assunto que é objeto de pesquisa e é uma perspectiva de longo prazo”, explicou ele.
Questionada sobre as recentes declarações de Castello Branco, a Petrobras não comentou de imediato.
Apesar do enorme potencial, usinas eólicas e solares ainda não têm presença tão intensa na matriz do Brasil, onde o predomínio ainda é da geração hidrelétrica.
As eólicas respondem hoje por cerca de 9 por cento da capacidade no país, enquanto solares são apenas 1,27 por cento, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A expansão, no entanto, tem sido rápida. As eólicas saíram praticamente do zero em 2009 para o patamar atual, de quase 15 gigawatts, enquanto a capacidade em usinas solares deve fechar 2019 em 2,17 gigawatts, contra 7 megawatts em 2012, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Fonte: Reuters