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Postado em 11 de dezembro de 2019 | 19:33

Paulo Henrique Cremoneze: Brasil, retrato da ineficiência logístico-infraestrutural

Perde-se muito tempo no Brasil com debates estéreis sobre temas secundários. Aquilo que é substancial, porém, é deixado de lado. Assuntos tolos ocupam lugares que deveriam ser dos verdadeiramente úteis ao País. Um exemplo: o problema do calado no Porto de Santos.
Não é um problema pontual e regional, mas contextual e nacional. As pessoas em todo o Brasil são prejudicadas pelo o que ocorre em minha cidade.

As notícias publicadas na semana passada em A Tribuna servem de alerta a administradores públicos e legisladores. Informou o jornal: “Falta de dragagem prejudica operação de líquidos no Porto. Perda de profundidade em berços de atracação foi de até 1,2 m. Navios cancelaram escala, dizem empresários”.

Eis um problema crônico, antigo. Não é de hoje que trato dele em artigos, palestras e eventos. Como advogado especializado em Direito do Seguro e com forte atuação em casos de Direito Marítimo, conheço de perto a situação.

Aliás, conheço antes mesmo de me tornar advogado. Quando criança, cansei de ouvir meu pai, oficial da Marinha do Brasil, membro do Departamento de Hidrografia Naval, falar sobre a incapacidade do Porto de Santos em receber navios de grande porte por causa do calado.

E dos anos 70 e 80 para cá, pouca coisa mudou, mas, em verdade, piorou. Entra governo, sai governo e ninguém faz nada.

Com tristeza, constato que nem posso dizer que os políticos falam muito sobre o assunto mas não agem, porque sequer vejo o importantíssimo assunto presente em seus discursos e suas agendas.

Dói perceber que ninguém parece dar o devido valor aos assuntos logística de transporte e infraestrutura, sendo o patinho feio das atenções políticas.

Diante de tanto descaso, o problema do Porto de Santos é ainda mais ignorado, o que revela a absoluta desqualificação geral da classe política brasileira.

Minha contundência não é vã, porque sei que o problema não é difícil de resolver. Em sendo assim, a questão não reside na dificuldade de solução adequada, mas na mais constrangedora ineficiência.
Digo com alguma frequência: dos países importantes do mundo, o Brasil é o pior em logística de transportes e infraestrutura.

Nenhum programa social seria necessário se houvesse zelo nesses campos. De fato, Ronald Reagan, um dos melhores presidentes americanos de todos os tempos, disse com muita propriedade: “o melhor programa social é o emprego”.

Riquezas circulariam e empregos seriam criados. Cuidar da infraestrutura em geral e a de transportes, em especial, é o que falta, ao lado da educação, para fazer com que o Brasil se torne um país desenvolvido.

O Brasil, dói reconhecer, é ineficiente e o problema do Porto de Santos, um retrato infeliz dessa condição inglória.

Já passou do tempo de os grandes “stakeholders” exigirem dos governantes e legisladores ações concretas, idôneas, eficazes para aumentar a profundidade do Porto de Santos e resolver de vez o problema.

A sociedade brasileira precisa diminuir os espaços dedicados aos blábláblás ideológicos e aumentar os daqueles que a conduziram aos portos seguros da prosperidade econômica e do desenvolvimento social.

Todo o mundo sabe que “não existe almoço grátis”, mas também sabe que nem sempre o custo é muito elevado. Às vezes, pode ser o de uma modesta operação de dragagem.

Fonte: A Tribuna


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