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Postado em 4 de maio de 2023 | 19:58

A digitalização e a confiança dos financiadores

Na indústria offshore, o aumento da digitalização dos processos apresenta um benefício colateral que é o aumento de confiança dos financiadores de projetos.

A digitalização e automação nos processos de produção de petróleo e gás em alto-mar, com interligação de unidades flutuantes por fibra óptica, anunciado pela Petrobras em agosto de 2022, marca um novo estágio atingido. A “Transformação digital – Usando a integração de dados para gerar valor para cadeia de O&G” foi um dos temas na programação de conferências da Rio Oil & Gás 2022.

A Halliburton informou, no final março, um acordo para a Petrobras usar sua plataforma digital Landmark iEnergy – DecisionSpace 365 – Geoscience Suite, incluindo tecnologias de nova geração em nuvem, para apoiar seus programas estratégicos de exploração e produção. Marta Abrão, gerente geral de Tecnologias de Aplicação e Dados de Exploração da Petrobras, disse que a tecnologia “pode acelerar a transformação digital e otimizar as atividades exploratórias”. Nagaraj Srinivasan, vice-presidente sênior da Halliburton Digital Solutions, destaca que a ferramenta digital permite que geólogos e engenheiros da Petrobras extraiam mais valor de seus dados e tomem decisões mais informadas todos os dias”.

Carlos Costa, diretor da divisão de estruturas da Trimble Brasil, vê os estaleiros brasileiros com contratos de construção de módulos de FPSOs como um mercado promissor para tecnologias digitais e de monitoramento em tempo real que ampliam o desempenho e os resultados. A digitalização dos estaleiros para projetos e execução de módulos e plataformas passa pela substituição gradual das entradas e saídas de documentos por sistemas integrados de modelagem da informação da construção (BIM). Contratantes de plataformas adotam novas soluções na engenharia de projetos e a possibilidade de colaboração, compartilhamento e comunicação com o processo de produção no canteiro de obras seria um diferencial relevante e desejado.

A Trimble desenvolve ferramentas digitais para o segmento de estruturas, além de hardware para diversas outras áreas. Oferece um ambiente digital de colaboração em tempo real, como serviço, através de soluções em software (SaaS). O avanço físico da obra é resultado da evolução desse processo, abrindo caminho para eventuais premiações resultantes de cumprimento ou antecipação de prazos contratuais. Decisões baseadas em dados precisam dos dados, e estes precisam ser gerados em plataformas compatíveis com requisitos mais complexos e interconectados de modo a gerar mais previsibilidade, fluidez e resultados de acordo ou além das expectativas.

Jon Fingland, gerente geral de Soluções Colaborativas da Trimble (nos EUA), em recente artigo aponta que empresas de arquitetura, engenharia e construção (AEC) estão ampliando a inteligência de negócios em processos, tecnologias e pessoas. Os provedores de processos digitalizados para este setor estão contratando pessoas com novos conjuntos de habilidades, como cientistas de dados, diretores de dados, especialistas em blockchain e especialistas em design e construção virtuais. A adoção de tecnologia nos canteiros de obra está crescendo, com aumento na utilização de drones e 80% dos engenheiros na obra capturando dados com dispositivos móveis

A Offshore Energy, especializada no setor de produção de petróleo offshore, publicou em 12 de abril de 2023 informação divulgada pela Wärtsilä sobre a operação dos módulos de energia do FPSO P-63, em operação no campo de Papa-Terra, em contrato de manutenção otimizada de cinco anos com a 3R Petroleum. A Wärtsilä destaca que a manutenção otimizada fornece previsibilidade de custos e disponibilidade de ativos, orientada por dados, do planejamento à execução. Explica que o suporte evita tempo de inatividade não programado, permitindo que os clientes se concentrem em seus negócios principais. É um exemplo da manutenção como um serviço executado a partir de sistemas digitalizados através dos centros de tecnologia da Wärtsilä, na Finlândia.

Em setembro de 2022, a revista Upstream publicou entrevista realizada pelo jornalista Gareth Chetwynd com Eirik Waerness, economista chefe da Equinor, durante a Rio Oil& Gas, apontando uma mudança de pensamento nas grandes petroleiras, evitando a dependência maciça de países ou empresas fornecedoras. Reconhece um aspecto geopolítico nas escolhas dos países que petroleiras e afretadoras desejam na sua cadeia de suprimentos. São decisões que levam a soluções de “nearshoring” ou mesmo “inshoring”, mas trata-se essencialmente de fazer com que as cadeias de suprimentos funcionem. Esse pensamento pode levar a mudanças, como a reativação da construção naval offshore no Brasil, pela Petrobras.

O Brasil é reconhecido detentor de grandes reservas provadas de petróleo. Financiadores internacionais viabilizam recursos para a construção de FPSOs para operação no offshore brasileiro. No início de março a SBM informou a contratação de financiamento do FPSO “Almirante Tamandaré”, no valor total de US$ 1,6 bilhão, com consórcio de 13 bancos internacionais, cobertura de seguro de quatro agências de crédito à exportação internacionais. O custo médio ponderado da dívida de 6,3% ao ano, com início de pagamento na entrega do equipamento para operações.

Em abril, o jornalista Fabio Palmigiani, correspondente no Rio de Janeiro da revista Upstream, informou o acordo em que a AIG Asset Management, a Contrarian Capital Management, a Moneda e a Allianz assumiram o controle do braço de perfuração da Ocyan. Viabilizando a conclusão do processo de reestruturação da empresa. O negócio de sondas de perfuração passa a ter como acionistas controladores os detentores de títulos da dívida. Passam a operar frota brasileira de plataformas de alta especificação composta pelo semissubmersível “Norbe VI” e os navios-sonda “Norbe VIII”, “Norbe IX”, “ODN I” e “ODN II”. Os financiadores reconhecem as oportunidades no offshore brasileiro.

O Brasil avançou na exploração de campos do pré-sal, que hoje são a maior parte da produção nacional de petróleo. Isso foi possível graças às diversas tecnologias desenvolvidas, de reservatórios aos sistemas flutuantes de produção, passando por poços e infraestrutura submarina de escoamento. Diversos desafios continuam sendo enfrentados para garantir a segurança e despesas operacionais progressivamente menores e cada vez mais sustentáveis.

O que está acontecendo agora pode ser considerado um momento definidor. Uma janela de oportunidades que, segundo analistas, se estreita à medida que a transição para energias renováveis amplia restrições aos combustíveis fósseis. Decisões que forem tomadas poderão criar oportunidades na indústria de fornecedores ao setor de petróleo e gás. Entre estes segmentos estão os serviços de navegação de apoio offshore, a construção naval e a ampliação das unidades industriais locais de fornecedoras internacionais.

 

 

Fonte: Ivan Leão é diretor da Ivens Consult

 

 

 

 

 


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