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Postado em 12 de fevereiro de 2019 | 17:42

Crise em comercializadoras de energia decorre de apostas ruins, não de preço, diz CCEE

A crise de duas comercializadoras de energia que têm enfrentado dificuldades para cumprir contratos com clientes não é fruto de uma disparada de preços no setor, como alegam as empresas, mas de erros de estratégia e gestão de riscos, avaliaram conselheiros da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) nesta terça-feira.

O Conselho de Administração da CCEE decidiu nas últimas semanas impor restrições às comercializadoras Vega Energy e Linkx após notícias de que as empresas estariam expostas negativamente no mercado livre de eletricidade. Elas agora só podem registrar novos contratos após análise da CCEE, que avaliará se estes não aumentam a exposição.[nL1N20610A]

A Vega acumulou uma posição vendida em contratos para o ano de 2019 avaliada em cerca de 180 milhões de reais, mas disse ter sido surpreendida pela alta nos preços spot da energia a partir de meados de dezembro, quando houve uma virada no cenário hídrico e as cotações começaram a subir.

Já a Linkx avisou a um grupo de 10 clientes na segunda-feira que “motivos alheios à sua vontade” tornaram “impossível” o cumprimento de contratos para entrega de energia em janeiro, citando também as chuvas ruins que elevaram os preços spot, também conhecidos como Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).

Mas o presidente do Conselho de Administração da CCEE, Rui Altieri, lembrou que os preços spot ficaram em máximas durante meses em outras ocasiões, como em 2014 e em 2018, o que não aconteceu em janeiro deste ano, quando as comercializadoras começaram a sinalizar problemas.

“Não é uma questão de o PLD estar alto, é questão das posições que os agentes assumem com uma estratégia. Queria dissociar isso da questão do PLD alto. Em 2014 passamos o ano praticamente todo com o PLD a 822 reais (por megawatt-hora)”, afirmou Altieri durante café da manhã com jornalistas para comemorar 20 anos da CCEE.

Os preços spot chegaram a tocar no início de dezembro uma mínima de cerca de 59 reais por MWh, devido às perspectivas favoráveis para a chuva na região das hidrelétricas, principal fonte de geração no Brasil.

A partir da metade do mês, no entanto, as chuvas rarearam e o PLD começou a subir —as cotações fecharam o mês em 88 reais e abriram 2019 a 140 reais, para tocarem 183 reais no final do mês. Em fevereiro, elas seguiram em alta e tocaram o teto permitido pela norma atual do setor, de 513 reais por MWh.

A CCEE já havia registrado um cenário de crise em algumas comercializadoras no passado, no início de 2008, quando o preço spot também saltou para o teto regulatório, mas as situações não são as mesmas, segundo a conselheira Solange David.

Naquela época, lembrou ela, alguns agentes foram à Justiça com alegações de que a falta de gás para térmicas da Petrobras havia impactado indevidamente os preços, em ações que em alguns casos ainda estão em tramitação.

“Era um cenário e um contexto diferentes de hoje, que é (um contexto) de assunção de risco maior em função das negociações que os agentes fazem”, afirmou ela.

Os representantes da CCEE ressaltaram ainda que a instituição tem como função monitorar as operações fechadas entre os agentes do mercado de energia e pode interferir em prol da segurança do ambiente de comercialização de energia, como aconteceu nos casos da Vega e da Linkx.

“Todos os agentes são constantemente monitorados por nossa central, não é porque sai uma notícia de jornal que começamos (a monitorar). É feito constantemente, e muitas vezes a notícia confirma nossa ação”, disse Altieri.

Ele disse ainda que a CCEE não vê indícios de qualquer tipo de fraude nas operações das comercializadoras envolvidas nos casos. “Nós não temos nenhum elemento para isso.”

FORA DA CCEE
Os problemas enfrentados pelas comercializadoras de energia neste ano, no entanto, aconteceram ainda antes de elas registrarem seus contratos junto à CCEE, ressaltaram os conselheiros da instituição.

Geralmente, os comercializadores fecham contratos de forma bilateral com seus clientes e só registram os acordos na Câmara pouco antes da chamada liquidação financeira do mercado de curto prazo, quando a CCEE realiza um acerto das diferenças contratuais entre montantes de energia vendidos, contratados e utilizados pelas partes.

A Vega, por exemplo, está exposta para o ano de 2019, para o qual a CCEE ainda não realizou nenhuma liquidação financeira, enquanto a Linkx sinalizou aos clientes problemas com os contratos de janeiro.

“Existem muitos contratos assinados fora. Essas duas empresas não têm exposição aqui dentro… o que elas fizeram foi para entregas futuras. Essa é uma discussão a ser travada: até que ponto nossa atuação e monitoramento têm que avançar nesse mercado?”, questionou Altieri.

Os conselheiros da CCEE afirmaram ainda que a atual situação pode eventualmente ajudar a retomar debates sobre possíveis aprimoramentos nas garantias praticadas no mercado ou até sobre exigências financeiras exigidas para a criação de comercializadoras.

Movimentos anteriores da CCEE e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para exigir que os agentes que operam no mercado de energia fossem obrigados a ter um banco que garantisse suas transações acabaram não avançando por questões como a resistência das empresas aos custos e a falta de interesse das instituições financeiras.

“Toda crise tem ameaça e oportunidade. Então de repente um momento mais tenso pode abrir caminho para que as garantias sejam aperfeiçoadas. É aquilo, o diabético quer sorvete, mas você tem que dar insulina”, afirmou o conselheiro Ary Pinto.

Fonte: Reuters


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