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Postado em 16 de setembro de 2021 | 20:26

Ford revela nova visão para o Mercosul

A Ford deixou clara sua intenção de passar a vender apenas veículos importados no mercado brasileiro, uma vez que anunciou que fecharia suas fábricas no Brasil. A montadora desde então começou a desenhar uma nova estratégia para a América do Sul, que exclui a fabricação no Brasil, mas preserva a fábrica na Argentina. Agora, a empresa se prepara para lançar a Transit, uma van que será produzida no Uruguai pela Nordex, empresa local. Embora isolado, o movimento Ford começa a revelar um novo retrato do setor automotivo no Mercosul.

O acordo com a empresa uruguaia foi fechado há um ano, antes que a Ford anunciasse o fim da produção de veículos no Brasil. Criada há quase 60 anos, a Nordex sempre esteve associada a uma multinacional do setor automotivo. Hoje, monta veículos das marcas Kia, Citroën e Peugeot, vendidos no Brasil.

O acordo com a Ford fará com que a empresa uruguaia cresça em tamanho e volume de produção – esse crescimento não foi divulgado.

O contrato envolveu um investimento de US $ 50 milhões, compartilhado entre as empresas, e a construção de um novo armazém na unidade uruguaia. Conforme divulgado pelas empresas no momento da assinatura do acordo, serão gerados cerca de 200 novos empregos na empresa, que já emprega mais de 300 pessoas.

A Ford não revela o índice de peças locais que serão usadas no Transit. Mas essa estratégia acrescenta novas questões aos pontos de discórdia já levantados pelos governos sobre o Mercosul. A polêmica envolve principalmente acordos comerciais com outras regiões. Enquanto Argentina e Paraguai mantêm a necessidade de preservar a união do Mercosul em acordos com outras regiões, os governos do Brasil e do Uruguai querem deixar a negociação a critério de cada país.

Durante apresentação à imprensa dos novos negócios da marca no segmento de veículos comerciais nesta segunda-feira, o vice-presidente da Ford na América do Sul, Rogelio Golfarb, disse que o Mercosul “tem sido fundamental para a indústria automotiva por permitir um processo de complementação histórica”. Para ele, porém, a flexibilidade para o livre comércio, prevista no acordo, “vai depender das condições de cada país”.

Para Golfarb, os avanços tecnológicos nos veículos, principalmente na conectividade, farão com que as fontes de fornecimento de componentes sejam cada vez mais abrangentes e dispersas. Isso, diz ele, leva à necessidade de repensar cada vez mais os critérios para as exigências de conteúdo local nos veículos.

Segundo ele, as fábricas que a empresa tinha no Brasil eram grandes demais para as características do novo produto, que será feito em pequenas quantidades. “A Nordex entregou boas condições em termos de competitividade, qualidade e custos”, disse.

Embora a Ford tenha se livrado de suas imponentes estruturas industriais em São Bernardo do Campo, Taubaté (SP) e Camaçari (BA) e uma menor em Horizonte (Ceará), a empresa preservou uma importante equipe de engenheiros, localizada na Bahia, em além de um campo de testes em Tatuí (São Paulo). Os engenheiros e técnicos da pista de teste trabalham em estreita colaboração com as equipes na sede da empresa em Dearborn, nos Estados Unidos.

Na estrutura comercial do Brasil, 100 concessionárias da marca foram preservadas e receberam treinamento técnico para mudar o foco dos carros compactos para os comerciais e luxuosos. Na reestruturação das operações na região, a empresa também manteve e modernizou a fábrica na Argentina, onde é feita a picape Ranger.

O Transit permite a adaptação da carroceria para várias versões, como transporte de passageiros, entrega de mercadorias, transporte de pessoas com problemas de mobilidade ou ambulância. A primeira versão, a ser lançada ainda este ano no Brasil, será em microônibus. Em seguida, será lançada uma versão van para entregas. Os preços dos veículos ainda não foram revelados.

A visão de negócios da Ford no Mercosul hoje é muito diferente daquela que orientava seus negócios na região quando o tratado de livre comércio do bloco foi lançado em 1991. Na época, a Ford e outras montadoras montavam um mapa fabril, que dividia as linhas de produção entre Brasil e Argentina, principalmente, e que permitiu um intercâmbio equilibrado entre os dois países.

No caso da Ford, os modelos de veículos eram produzidos na fábrica da Argentina, enquanto as linhas brasileiras produziam carros compactos, segmento que teve alta nos anos que se seguiram ao acordo do Mercosul.

A indústria automotiva passou por grandes transformações em todo o mundo. No Brasil, o fechamento das fábricas da Ford causou traumas e frustrações. Ao mesmo tempo, o caminho que a empresa começou a trilhar na região serve não só como uma demonstração do que pode vir pela frente, mas também como uma provocação para que o país reflita sobre os instrumentos que pode utilizar para proteger a atividade industrial automotiva.

Fonte: Portos e Navios


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