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Postado em 7 de abril de 2019 | 13:57

Ernesto Araújo diz ter certeza de que aproximação com Israel não trará prejuízos ao agronegócio

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que tem “certeza” de que a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel, e a aproximação entre os dois países, não gerará prejuízos ao agronegócio brasileiro.

O risco de uma ruptura com o mercado árabe vem sendo apontado desde que Jair Bolsonaro, ainda na campanha, afirmou que pretendia transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do presidente norte-americano Donald Trump.

A ideia foi convertida na abertura de um escritório comercial em Jerusalém, cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.

O eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém como capital de Israel, e também a eventual mudança da embaixada, suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil.

O embaixador da Autoridade Palestina, Ibrahim Alzeben, que já tinha pedido audiência da Liga Árabe com o Itamaraty, classificou o anúncio como “gesto desnecessário”. A Palestina também chamou de volta seu embaixador no Brasil para consultas e para estudar uma resposta à medida.

“Essa ideia de que a nossa política externa causa prejuízo ao agronegócio tem sido propalada, e até agora não se materializou de forma nenhuma. Tenho certeza de que não se materializará”, disse Araújo, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

O desconforto dos países árabes foi confirmado nesta quarta-feira (3) pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela disse que se reunirá com 51 embaixadores dessas nações, no próximo dia 10, como forma de apaziguar os ânimos na área econômica.

Questionado nesta quinta sobre o assunto, Ernesto Araújo disse que há novas parcerias em andamento com o mundo árabe – inclusive, na agricultura e na pecuária.

“O chanceler dos Emirados Árabes Unidos já discutiu uma ideia que ele mesmo apresentou, e que nós vamos procurar desenvolver, de melhor utilizar o hub de distribuição excepcional, que eles possuem, para melhor acesso ao mercado da Índia de produtos alimentícios. […] em benefício, é claro, do agronegócio brasileiro”, afirmou o chanceler.

“Já obtivemos acesso ao mercado de gado vivo da Malásia, que é um país de maioria muçulmana”, complementou.

EUA x China
Na audiência, Ernesto Araújo negou que a aproximação com o presidente norte-americano Donald Trump possa gerar impacto negativo na pauta comercial com a China. Em 2018, assim como em anos anteriores, a China foi o principal parceiro comercial brasileiro nos dois sentidos (importação e exportação).

“Não há de forma nenhuma uma exclusão entre buscar um relacionamento integral, produtivo com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, um relacionamento com a China. Essa visão certamente não é a nossa, tenho certeza de que também não é a visão da China, pelo que já conversamos com eles.”

Críticas ao passado
Antes de ouvir as perguntas dos senadores, Araújo comentou a política externa adotada pelo Brasil nos últimos 30 anos. Segundo ele, nos anos 1990, o país deu sinais de aproximação dos Estados Unidos e da União Europeia mas, na prática, “o objetivo era que uma atrapalhasse a outra”.

Nos anos 2000, disse Araújo, a prioridade foi a “criação de um espaço sul-americano com uma perspectiva muito excludente, extremamente ideológica”.

“O processo de integração sul-americano foi, de certa forma, direcionado para isolar os governos da região que não eram controlados por partidos de esquerda e procurar propelir o conjunto da região a se fechar ao exterior, e se tornar um bloco sujeito a uma determinada ideologia”, afirmou.

Em março, o Brasil e outros sete países sul-americanos assinaram o documento de criação do Prosul, um fórum regional para substituir a atual União das Nações Sul-Americanas (Unasul) – que entrou em crise após impasses com a Venezuela.

A Unasul foi classificada pelo presidente Jair Bolsonaro como “nome de fantasia” do Foro de São Paulo. O foro foi um grupo criado na década de 1990 por partidos de esquerda da América Latina.

Polêmicas internas
Questionado diversas vezes durante a manhã, Araújo evitou tratar de declarações polêmicas dadas por ele, nas últimas semanas, sobre ditadura e nazismo. Em sessão semelhante na Câmara dos Deputados, na semana passada, ele disse não considerar que tenha havido um golpe militar no país em 1964.

Em outra entrevista, dada a um canal do YouTube, o chanceler classificou o nazismo e o fascismo como movimentos de esquerda. Nesta quinta, ele evitou perguntas sobre essa classificação.

“Por exemplo, na questão de movimentos totalitários, eu acho importante que haja uma discussão sobre a essência desses movimentos no passado, e alguns no presente. Independentemente de nomenclatura, isso que é o fundamental. Saber o que significam e significaram determinados movimentos e regimes totalitários, independentemente de como sejam classificados”, ressaltou.

Israel e Venezuela
Ernesto Araújo também foi questionado sobre os supostos crimes de guerra atribuídos a Israel pela Organização das Nações Unidas. O Brasil votou contra a condenação do país no Conselho de Segurança da ONU, em Genebra, pelas políticas de ocupação.

Segundo ele, Israel “vinha sendo injustamente singularizado no tratamento do tema de direitos humanos no contexto das Nações Unidas, sofrendo um tipo de tratamento que praticamente transformava Israel em um pária da comunidade internacional”.

“É um país onde pode haver problemas, como há problemas em outros fóruns, mas o conceito básico é esse de não discriminar contra um determinado país, e não deixar que as situações que são preocupantes de direitos humanos sejam manipuladas com interesses políticos como aconteceu no passado”, disse o ministro.

Fonte: G1


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