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Postado em 23 de julho de 2020 | 17:08

Allianz: baixa recorde de perdas no transporte marítimo

As consequências do coronavírus e uma desaceleração econômica continuada podem ameaçar a melhoria da segurança a longo prazo e desencadear um aumento nas perdas devido a medidas para redução de custos, tripulação fatigada, embarcações ociosas e ineficiente resposta a emergências.

As grandes perdas na navegação estão em seu nível mais baixo, tendo caído mais de 20% em relação ao ano anterior, segundo o estudo da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS), Safety & Shipping Review 2020. No entanto, a crise do coronavírus pode comprometer melhorias de segurança feitas no setor em 2020 e além, pois condições operacionais difíceis e uma forte desaceleração econômica apresentam um conjunto único de desafios.

“O coronavírus atingiu o segmento do transporte marítimo em um momento difícil já que busca reduzir suas emissões, há ainda questões como mudança climática, riscos políticos, pirataria e é um setor que lida com problemas constantes como incêndios nas embarcações”, diz Baptiste Ossena, líder global de seguros de casco AGCS. “Agora, o setor também enfrenta a tarefa de operar em um mundo muito diferente, com as incertas implicações econômicas e de saúde pública da pandemia.”

O estudo anual da AGCS analisa perdas acima de 100 toneladas brutas (GT) e também identifica 10 desafios da crise do coronavírus para o setor da navegação que podem afetar a segurança e o gerenciamento de riscos. Em 2019, foram relatadas 41 perdas totais de navios em todo o mundo versus 53 no ano anterior. Isso representa um declínio aproximado de 70% em 10 anos e é resultado de esforços sustentados nas áreas de regulação, treinamento e avanço tecnológico, entre outros. Mais de 950 perdas foram relatadas desde o início de 2010.

Desafios do Coronavírus

O setor de navegação continuou a operar durante a pandemia, apesar das disrupções nos portos e das mudanças nas tripulações. Embora qualquer redução nas viagens devido a restrições de coronavírus possa diminuir a atividade de perda nesse meio tempo, o relatório destaca 10 desafios que podem aumentar os riscos. Entre eles estão:
• A incapacidade de mudar de tripulação está afetando o bem-estar dos marinheiros, o que poderia levar a um aumento no erro humano a bordo dos navios.
• A interrupção da manutenção e serviços essenciais aumenta o risco de danos às máquinas, que já é uma das principais causas de sinistros em Marine.
• Vistorias oficiais e inspeções portuárias reduzidas ou atrasadas podem levar a práticas não seguras ou a equipamentos defeituosos não serem detectados.
• Danos e atrasos na carga passam a ser mais comuns, uma vez que as cadeias de abastecimento estão sob pressão.
• A capacidade de responder rapidamente a uma emergência também pode ser comprometida com consequências para incidentes importantes que dependem de suporte externo.
• O número crescente de navios de cruzeiro e petroleiros em lay-up em todo o mundo representa exposições financeiras significativas, devido à ameaça potencial de condições climáticas extremas, pirataria ou riscos políticos.

“Proprietários de navios também enfrentam pressões de custo adicionais devido a uma desaceleração da economia e do comércio”, diz o capitão Rahul Khanna, diretor global de consultoria de risco em Marine AGCS. “Sabemos, por crises já ocorridas no passado, que os orçamentos para tripulação e manutenção estão entre as primeiras áreas que podem ser cortadas e isso pode afetar a operação segura de embarcações e máquinas, potencialmente causando danos ou avarias, o que, por sua vez, levaria a encalhamento ou colisões. É crucial que os padrões de segurança e manutenção não sejam afetados por nenhuma crise.”

Principais locais de perdas e navios mais afetados

De acordo com o relatório, a região do Sul da China, Indochina, Indonésia e Filipinas continua sendo o principal local de perdas, com 12 embarcações em 2019 e 228 na última década – uma em cada quatro perdas globais. Alto volume de comércio, rotas de navegação movimentadas, frotas mais antigas, exposição a tufões e questões de segurança em algumas rotas domésticas de balsa são fatores que contribuem para esses números. No entanto, em 2019, as perdas diminuíram pelo segundo ano consecutivo. O Golfo do México (4) e a Costa Oeste da África (3) estão em segundo e terceiro lugares.

Os navios cargueiros (15) representaram mais de um terço das perdas no ano passado, enquanto as naufrágios (afundados) foram a principal causa de todas as perdas totais, representando três em cada quatro (31). O mau tempo foi responsável por uma em cada cinco perdas. Problemas com transportadores e navios roll-on / roll-off (Ro-Ro) continuam entre as principais questões de segurança. O total de perdas envolvendo Ro-Ros aumentou ano a ano, além de incidentes menores (+ 20%) – uma tendência que continua em 2020.

“O aumento no número e na gravidade dos sinistros de navios Ro-Ro é preocupante. Eles podem estar mais expostos a incêndios e problemas de estabilidade do que outros navios ”, diz Khanna. “Muitos têm inversões rápidas nos portos e várias investigações de acidentes revelaram que as verificações de estabilidade antes da partida não foram realizadas como deveriam ou foram baseadas em informações imprecisas da carga. Muitas vezes considerações de ordem comercial colocaram em risco embarcações e tripulações e é vital que isso seja abordado em terra e a bordo.”

Pequenos incidentes vêm crescendo

Enquanto o total de perdas continua apresentando uma tendência positiva, o número de incidentes reportados (2.815) aumentou 5% ano a ano, devido a danos nas máquinas, que causaram mais de um em cada três (1.044). O aumento de episódios nas águas das Ilhas Britânicas, Mar do Norte, Canal da Mancha e Golfo da Biscaia (605) fez com que essas regiões substituíssem o Mediterrâneo Oriental como o nº1 do ranking pela primeira vez desde 2011, representando um em cada cinco incidentes no mundo.

“Não podemos perder de vista o fato de que, embora as perdas totais tenham diminuído significativamente, o número total de incidentes aumentou ano a ano”, diz Ossena. “Não é preciso muito para que um incidente grave resulte em uma perda total e, portanto, os sinais de alerta estão ali.”

Houve quase 200 incêndios reportados em navios no ano passado, um aumento de 13%, com cinco perdas totais somente em 2019. Cargas mal declaradas são uma das principais causas. Tomar medidas para resolver esse problema é vital, pois ele só piora à medida que as embarcações se tornam maiores e a variedade de mercadorias transportadas cresce. Produtos químicos e baterias são cada vez mais transportados em contêineres e representam um sério risco de incêndio se forem declarados ou armazenados incorretamente.

Tensões geopolíticas e a tecnologia impactam a segurança da navegação

Enquanto isso, os eventos no Golfo de Omã e no Mar da China Meridional mostram que a rivalidade política está também em alto mar e o transporte marítimo continuará sendo atraído para as disputas geopolíticas. O aumento do risco político e dos conflitos civis em todo o mundo tem implicações no transporte marítimo, como a capacidade de proteger tripulações e acessar portos com segurança. Além disso, a pirataria continua sendo uma grande ameaça, com o Golfo da Guiné ressurgindo como principal foco global, com a América Latina vendo o aumento do assalto à mão armada e reaparecendo também no Estreito de Cingapura.

Proprietários também estão cada vez mais preocupados com a perspectiva de conflitos cibernéticos. Há um número crescente de ataques de spoofing por GPS em navios, particularmente no Oriente Médio e na China, enquanto há relatos de um aumento de 400% nas tentativas de ataques cibernéticos no setor marítimo desde o surto de coronavírus.

Navegação fluvial: perigos na Amazônia

No Brasil, um dos principais parques industriais do país está localizado em Manaus, Amazonas, no norte brasileiro, local onde o transporte de cargas e pessoas é majoritariamente feito através dos rios da região.

“Durante os 5 dias em que uma carga habitualmente leva para sair do norte e chegar aos grandes centros consumidores no sudeste, balsas transportando os mais diversos tipos de produtos vêm experimentando um aumento no número de ações criminosas de roubo de carga e uma preocupação também com colisões, seja com bancos de areia ou outras embarcações, muitas delas irregulares”, afirma Egleson Ferreira, consultor de risco em marine AGCS América do Sul.

Em mais de 50 anos de atividade industrial na região Amazônica, os desafios do distrito industrial para escoamento da carga pouco mudaram. As mercadorias, em sua maioria, são transportadas em carretas desde as unidades fabris em Manaus até portos da cidade onde embarcam em balsas que levam 5 dias até a cidade de Belém do Pará. Lá, incia-se o trajeto rodoviário por mais 3 dias até a região sudeste brasileira.

Apesar dos desafios, o transporte fluvial ainda é mais rápido quando comparado ao transporte marítimo – que prolongaria o trajeto em cerca de 10 dias – e mais barato do que o transporte aéreo.

Outros temas abordados no AGCS Safety & Shipping Review incluem:

Metas para reduzir as emissões definirão o risco para a navegação nos próximos anos. O objetivo de reduzir pela metade as emissões de CO2 até 2050 exigirá que o mercado altere radicalmente combustíveis, tecnologia de motores e até o design das embarcações. Desde 1º de janeiro de 2020, os níveis permitidos de enxofre no óleo combustível marítimo foram reduzidos. No entanto, estar em conformidade não é simples e os problemas de adequação podem levar a um aumento nos sinistros de danos às máquinas. Por fim, a descarbonização também terá implicações regulatórias, operacionais e de reputação. O progresso na abordagem das mudanças climáticas pode estagnar com o foco agora na pandemia do coronavírus. Isso não pode acontecer.

As novas tecnologias não fazem milagres, mas são uma ferramenta cada vez mais útil: A tecnologia de transporte marítimo pode ser positiva para a segurança e no caso de sinistros, e vem sendo cada vez mais usada para combater alguns dos riscos destacados no relatório – desde reduzir a ameaça de incêndio em embarcações, monitorar a temperatura da carga até integrar sistemas de supressão a drones no futuro. O aumento do uso de sistemas de controle industrial para monitorar e manter os motores pode reduzir significativamente os danos às máquinas e os incidentes de avaria, uma das maiores causas atuais de sinistros.

Navios azarados – Os navios mais propensos a acidentes do ano passado foram duas balsas nas ilhas Gregas e um graneleiro na América do Norte, todos envolvidos em seis incidentes diferentes.

 

 

Fonte: Portos $ Navios


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