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Postado em 21 de novembro de 2019 | 20:48

Mudança: Sede Administrativa da CODESA será na Enseada do Suá

Em um movimento que já começa a sinalizar a profissionalização do negócio e a busca pela inserção em um mercado mais competitivo, a Codesa vai deixar os armazéns 4 e 5 do Porto de Vitória, localizados no centro da Capital. A unidade administrativa e de negócios da Companhia Docas do Espírito Santo será transferida para um imóvel alugado (foto) na Enseada do Suá, também em Vitória.

A mudança está prevista para começar a acontecer no próximo dia 29, uma sexta-feira, e já na segunda-feira seguinte (02) cerca de 130 profissionais – entre empregados próprios, estagiários e terceirizados – vão ocupar um andar e meio do mesmo prédio onde hoje funciona o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (CREA-ES). Atualmente, essa mesma quantidade de trabalhadores atua em sete andares de dois armazéns no complexo portuário.

Assim que a coluna teve acesso à informação sobre a transferência da unidade administrativa e de negócios, procurou o diretor-presidente da Codesa, Julio Castiglioni, para entender o porquê de fazer essa mudança no momento em que a companhia passa pelo processo de desestatização, ainda mais considerando que a empresa já tem vários passivos e luta para reverter o déficit de R$ 43 milhões acumulados nos anos de 2017 e 2018.

Não seria um contrassenso então deixar um imóvel próprio para passar a funcionar em um espaço alugado em uma área nobre da cidade? Ainda mais sabendo que dentro de aproximadamente dois anos a Codesa terá mudado das mãos do governo federal para as da iniciativa privada? Castiglioni garante que não.

À coluna, ele explicou que a mudança de local alia demandas internas e externas da companhia. De acordo com ele, deixar os já velhos armazéns do Porto de Vitória vai contribuir para a realização de negócios junto a investidores, para a melhoria das condições de trabalho e aumento da produtividade da equipe e ainda fará bem para as contas da Codesa.

O diretor-presidente – que assumiu a função em março deste ano – afirmou que a decisão ligada à mudança de sede só foi tomada após muitas análises econômicas. Ele adiantou que a expectativa da Codesa é economizar R$ 3,8 milhões no período de 10 anos, mesmo já considerando o pagamento de aluguel, condomínio e outras despesas do novo espaço.

Julio Castiglioni – Diretor-presidente da Codesa

Além de explicar os motivos para a mudança, os impactos nas finanças da companhia e no dia a dia das atividades, Castiglioni falou sobre o futuro dos armazéns que serão desocupados nos próximos dias. Confira a entrevista.

A parte administrativa da Codesa irá para outro endereço. Por que a opção pela mudança?

O primeiro ponto é que não estamos fazendo mudança de sede, mas lançando uma unidade de administração e negócios. Nós vamos ter uma unidade que sai da zona portuária e manteremos a unidade operacional que é o próprio porto. As rotinas de operação continuam. Dessa forma, mais da metade dos empregados efetivos da Codesa (hoje são 261) permanecem ainda na unidade do Porto de Vitória e de Capuaba.

Por que criar essa unidade de administração e negócios?

Tem dois motivos principais. Um é uma perspectiva externa. Nós temos percebido que a Codesa ao longo do tempo demonstrou ser muito mais Estado do que empresa, e achamos que há um desequilíbrio nisso. É importante que a Codesa se recoloque, se reposicione num ambiente de mercado porque ela sofre forte concorrência de terminais de uso privativo, como Porto de Açu, como Portocel e o próprio complexo portuário de Tubarão que, desde 2012, pode movimentar algumas cargas que antigamente eram cargas cativas do Porto de Vitória e Capuaba. Com a abertura do mercado, desde a Lei 12.815, há um verdadeiro mercado concorrencial, e entendemos que a Codesa precisa estar preparada para fazer negócios e para administrar a rotina de maneira competitiva, e um dos pontos identificados – e isso não é isolado, essa é apenas uma ação – é que deveríamos criar um ambiente físico mais propício à celebração de negócios. Então, é isso que estamos fazendo na perspectiva externa, ou seja, levar a unidade de negócios da Codesa para perto de um centro empresarial capixaba que fica hoje na Enseada do Suá.

Essa decisão foi inspirada em algum modelo?

Essa ideia de ter uma unidade de negócios perto do polo empresarial não é inédita. A gente tem feito estudos de benchmarking, inclusive fora do país, e não é raro ver unidades portuárias com esse modelo, como é o caso do porto de Barcelona, como é o caso dos terminais de Brisbane e Melbourne, na Austrália, de Lisboa também. Você percebe que as condições físicas da unidade de negócios são voltadas para empreender. São condições confortáveis, aprazíveis. Evidentemente, nada luxuoso e suntuoso até porque o momento não pede isso. Mas hoje o fato é que as nossas estruturas na Codesa são absolutamente precárias. Um exemplo é a dificuldade de estacionamento. As pessoas não têm vontade de ir até a sede da Codesa porque nem o Uber consegue parar na porta da companhia hoje. É uma zona portuária, que demanda controle de acesso muito forte. Nossas instalações físicas são muito ruins para o empresariado.

O senhor citou o primeiro motivo que é a perspectiva externa. E qual é o outro?

O segundo é a perspectiva interna, que diz respeito à qualidade (do ambiente de trabalho) e à saúde laboral dos empregados da Codesa. Os armazéns da Codesa estão muito ruins, nossos móveis são muito velhos, e a estrutura é muito velha. Temos muita limitação para fazer adaptações no imóvel. É um imóvel em processo de tombamento. As paredes são autoportantes, e é difícil demolir. Além disso, nós temos nos baseado em literatura científica no sentido que o trabalho em open office (escritórios em plano aberto) dá ganhos exponenciais de produtividade, de sinergia, de comunicação interna. Então, estamos apostando nisso. Essa perspectiva interna dá melhor condição de trabalho para o próprio empregado da Codesa, com instalações mais confortáveis e que permitam a melhor comunicação entre os colaboradores.

Por que fazer essa segregação entre unidades operacional e administrativa sendo que a Codesa tem imóvel próprio, ou seja, não precisaria pagar aluguel de outro espaço? E também por que mudar considerando que a companhia está passando por um processo de desestatização?

Não dá para tomar decisões colocando a ideologia na frente da matemática. Geralmente o resultado disso é catastrófico. Então, não fizemos isso. Tomamos decisão com base em planilhas. Temos estudos absolutamente aprofundados sobre isso, foram seis meses de análise. Vamos conseguir diminuir substancialmente custos com contratos, por exemplo, de limpeza, de informática, com a quantidade de estagiários. Vamos conseguir ter economia também com pagamento de adicional de risco, que hoje é pago a alguns dos colaboradores pelo simples fato de trabalharem em uma zona portuária. Enfim, existe uma infinidade de gastos que vamos conseguir obter a partir de uma unidade, ainda que ela seja alugada.

Mas o que isso representa em números?

Colocando isso na ponta do lápis, mesmo com custo de aluguel e com custo de condomínio, ainda assim teremos uma economia ao final de 10 anos na ordem de R$ 3,8 milhões.

Por que não deixar isso para após o processo de desestatização?

Estamos fazendo isso agora porque já estamos preparando a Codesa para um ambiente empresarial, para um ambiente cuja racionalidade, cujo o processo decisório é privado. Então, precisamos preparar a empresa e as pessoas para esse ambiente de concorrência. Por isso, não faz sentido esperarmos mais dois anos para fazer isso. Mas de qualquer maneira esse projeto se paga. Ele tem um payback (retorno de investimento) de 10 meses. Então, se vamos entrar no espaço no dia 29 de novembro, que é a nossa previsão, significa que daqui a 10 meses, todo o custo que eu tive com a mudança, com a mobilização ele se paga em 10 meses, de maneira tal que essa mudança não vai se tornar um ônus para o próximo parceiro privado que vier a ganhar o leilão lá na frente da Codesa. Isso significa dizer que estamos preservando as opções desse futuro concessionário. Ele pode simplesmente dizer que vai manter o contrato, pode dizer ‘não quero’, ‘quero voltar para o Porto de Vitória’, ou ele pode dizer que não quer uma coisa nem outra. Essa decisão poderá ser tomada porque esse projeto já terá sido pago no 10º mês de contrato.

E qual será o futuro dos galpões que serão desocupados?

Por ora, eles não serão utilizados, mas vamos tratar para fazer a manutenção periódica do imóvel, mas com periodicidade menor do que a exigida hoje. O futuro que todo mundo quer é que aquele patrimônio histórico tenha alguma destinação econômica sem ofender a memória dos capixabas. Estamos incluindo esses galpões no caderno de encargos da próxima concessionária, mas não está claro exatamente qual vai ser a destinação. Mas é claro que queremos preservar o projeto. Temos incentivado a comunidade portuária para nos dar ideias do que fazer com o imóvel. Conversamos com governo do Estado, com as prefeituras de Vitória e Vila Velha, com a comunidade portuária. Nas últimas semanas foram 46 reuniões com diversos agentes da comunidade portuária, e uma das perguntas que temos feito é para tentar encontrar a melhor vocação sócio-econômica para aqueles galpões. A gente tem algumas ideias.

Quais?

Eu tenho um desejo pessoal que é o de transformar pelo menos parte daqueles galpões num polo gastronômico, cultural e turístico. Isso precisa se confirmar em planilha. Tem que ser economicamente viável, e é isso que vamos estudar durante a modelagem. O que não significa que eles (os galpões) serão abandonados, eles continuam demandando manutenção e vamos trabalhar para dar uma viabilidade melhor para aqueles ativos.

Fonte: A Gazeta


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