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Postado em 26 de fevereiro de 2019 | 18:38

Em meio à crise, montadoras pedem a Guedes que adie livre comércio de carros com México

As montadoras solicitaram ao governo brasileiro que renegocie o acordo automotivo com o México e estenda o regime de cotas para exportação e importação de automóveis por mais três anos.

O tratado atual prevê o livre comércio de carros e autopeças entre Brasil e México dentro de três semanas – mais especificamente a partir do dia 19 de março. Ônibus e caminhões não estão incluídos.

Na semana passada, representantes das montadoras expuseram o pleito do setor durante reunião em Brasília com Marcos Troyo, secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, pasta comandada por Paulo Guedes.

Eles apresentaram um estudo feito pela consultoria Pwc, que aponta que é mais barato produzir carros no México do que no Brasil. O diferencial competitivo é provocado pela carga tributária, pela infraestrutura e pela escala. Os mexicanos têm grande volume de produção, porque exportam para os Estados Unidos.

A proposta das montadoras é aumentar a cota para exportação e importação de carros entre Brasil e México em 10% a 15% no primeiro ano de vigência de um eventual novo tratado. A cota continuaria crescendo nos dos anos seguintes até o livre comércio.

Hoje o limite está em US$ 1,7 bilhão por ano e é dividido entre as empresas. Algumas montadoras já estão no teto do que podem importar do México, mas longe de alcançar sua cota de exportação do Brasil para lá.

O setor automotivo atravessa uma crise global e operações brasileiras dão sinais de que a busca por readequação do setor chegou ao Brasil.

Em janeiro, Carlos Zarlenga, presidente da GM no Mercosul, enviou um email aos funcionários destacando que a empresa teve grandes perdas nos últimos três anos e que voltar a investir localmente depende de um doloroso plano para recuperar a lucratividade.

Em fevereiro, a Ford anunciou que vai fechar a fábrica de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, também alegando sofrer uma sequência de prejuízos com a produção local.

Na avaliação de executivos de montadoras instaladas no Brasil, o livre comércio com o México neste momento tende a aprofundar as perdas financeiras aqui e até acelerar a transferência de investimentos para outros polos automotivos no mundo.

No ano passado, o Brasil exportou 52,3 mil carros para o México, uma queda de 42% em relação aos 90,3 mil unidades vendidas em 2017, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

“Se abrir o mercado neste momento, pode ocorrer um desvio de investimentos. Ao invés de investir no Brasil, as empresas vão levar projetos para o México”, disse Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras.

Procurado pela reportagem, Troyo não comentou o assunto. A solicitação das montadoras confronta a intenção do presidente Jair Bolsonaro de adotar uma postura mais liberal de abertura do mercado brasileiro.

Fontes do governo dizem que ainda não há decisão tomada, mas que a intenção era utilizar o setor automotivo para pressionar o México a selar um entendimento mais amplo com o Brasil.

Brasil e México também possuem um acordo de preferências tarifárias que inclui diversos setores, mas é limitado a cerca de 800 itens. Nos últimos anos, os dois países vêm negociando um ampliação da lista de produtos, todavia, esbarram na resistência mexicana em abrir seu mercado para os produtos agrícolas brasileiros.

O acordo automotivo entre Brasil e México foi assinado pela vez no início dos anos 2000. Na época, só o Brasil produzia carros populares, que eram exportados para o México. O acordo, portanto, foi visto como positivo para as montadoras instaladas em território brasileiro.

Com o início da produção de modelos populares também no México, a situação se inverteu. A atual versão do tratado previa livre comércio de carros em 2015.

As cotas, no entanto, acabaram sendo estendidas por mais quatro anos, após a então presidente Dilma Rousseff ameaçar romper o entendimento unilateralmente.

Fonte: Folha de S. Paulo


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